É engraçado como funciona a nossa memória. Ela não é nada como a memória de um computador. Quando armazenamos uma informação no computador, escrevemos dados em um sistema de arquivos organizado. Temos mecanismos para buscar a informação, e recuperar ela - que estará permanentemente registrada da mesma forma em que estava logo depois de a termos gravado.
A memória do computador não é volátil ou flexível. Quando salvamos uma foto no computador, essa foto é composta de um monte de zeros e uns que são escritos em um disco. Quando abrimos essa mesma foto para mostrar para um amigo, o computador transforma esses zeros e uns em uma imagem, que é exatamente a mesma que foi gravada.
Nossa memória não é digital. Ao mesmo tempo que lemos uma informação na nossa memória, estamos sujeitos a alterar essa informação. Pense em uma pessoa que você não vê há algum tempo. Dependendo de como estiver o seu humor, você vai lembrar de alguns aspectos dessa pessoa. Por exemplo, se você estiver com saudades, provavelmente vai lembrar das coisas boas. Nesse momento, seus neurônios que armazenam as informações boas sobre essa pessoa serão acionados e essas memórias serão fortalecidas - pois cada vez que as sinapses utilizadas para acessar essa informação recebem um impulso, elas tornam essa informação mais fácil de ser acessada.
Dessa forma, podemos lembrar facilmente de um dia feliz na nossa infância, mas não ter a mínima idéia de quais foram as nossas últimas refeições, ou esquecermos imediatamente um número de telefone após anotá-lo em uma agenda. E mesmo em relação a nossa memória de um dia feliz, ela pode omitir alguns pequenos contratempos que passamos e agora não fazem a menor diferença. Se fossemos contar a história desse dia hoje, com certeza ela seria diferente de um relato escrito por nós mesmos na época do evento.
Nossa memória conta a nossa história para nós mesmos, da maneira que a gente moldá-la - seja consciente ou inconscientemente. Mudamos a experiência que tivemos, toda vez que acessamos nossa memória. E apagamos aquilo que não ficou fortemente registrado. Talvez para não "lotar" nossa mente com informações irrelevantes. No filme "O brilho eterno de uma mente sem lembranças", a trama envolve apagar as memórias de um amor que não deu certo. Mas na vida real, isso é muito mais complexo.
Há estudos que demonstram em experiências de laboratório ser possível apagar um trauma armazenado na memória, através da manipulação das sinapses. Para isso, os cientistas fazem com que o paciente do experimento reviva essa memória - acessando ela novamente - mas através de processos químicos a memória é inibida depois de acessada. Por enquanto os experimentos foram realizados em animais (ratos de laboratório) que era ensinados a fazer coisa, ou temer algum evento - e depois a memória dessa experiência era eliminada e os animais simplesmente deixavam de fazer o que foram ensinados ou perdiam o medo.
Ainda não está completamente entendido como isso funcionaria em seres humanos. Nossas memórias são bastante complexas - mapear como as informações são armazenadas na nossa mente, é um desafio. E eu acredito que a natureza já nos deu as armas que precisamos para lidar com memórias indesejadas. Se não as trouxermos a tona, principalmente através das nossas emoções, elas logo se tornarão vagas lembranças. Porém não temos domínio sobre nossas emoções...
Para finalizar e ressaltar o quão importante é a nossa memória. acredito que uma das doenças mais terríveis que se tenha conhecimento é o Alzheimer - que deteriora a nossa capacidade de contarmos a nossa própria história. Porque no final das contas somos feitos de nossas memórias, e nossas memórias são moldadas por nossas atitudes! Portanto tome cuidado da sua vida e das suas memórias.
PS: Uma dica, e um cuidado que temos que tomar, pessoas estressadas tem maior dificuldade em criar novas memórias. O estresse faz com que nosso cérebro entre em um modo de emergência, e inibe o funcionamento normal da memória.