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7 de janeiro de 2005

O que será que será?

Aos pouco venho aprendendo a reconhecer a genialidade do Chico. Conheço apenas algumas músicas desse grande músico, dentre elas a que dá título a esse post. Porém nunca tinha reparado em um detalhe. Sempre que cantava essa música no karaokê sentia falta de algumas partes da letra que eu jurava existir em minha memória.

E só depois de muito tempo percebi que existem duas versões dessa música. Uma delas é a que transcrevo abaixo, com certeza a minha predileta: À flor da pele. E a outra tem o mesmo ritmo e a mesma estrutura, porém tem um sentido diferente. É mais sutil aos meus olhos. É “À flor da terra”. As duas são ótimas, porém enquanto "à flor da pele" me faz pensar em uma paixão, "à flor da terra" me leva a imaginar um pouco além. Tem um pouco de paixão no sentido de liberdade, de êxtase. Mas o que será que será?

O que será (À flor da pele)
Chico Buarque/1976

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

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